segunda-feira, 14 de novembro de 2011

A PEC 110/2011 e a possibilidade de mudanças na licença maternidade, licença paternidade e no combate à discriminação nas relações trabalhistas

Recentemente, a senadora Marta Suplicy apresentou a Proposta de Emenda à Constituição nº 110/2011 com o fito de alterar disposições constitucionais sobre a licença maternidade, a licença paternidade e o combate à discriminação existente nas relações trabalhistas baseada na orientação sexual identidade de gênero.

Segundo o texto proposto, a licença à gestante prevista no art. 7º, XVIII da Constituição Federal de 1988 passaria a se chamar licença natalidade, a poder ser concedida a qualquer um dos pais e a ter duração de 180 dias, contra os 120 dias atualmente previstos.

Através dessas alterações, a normativa busca tutelar as mais diversas estruturas familiares, como as famílias monoparentais e os casais homoafetivos. Afinal, a orientação sexual e a identidade de gênero das pessoas não constituem critério válido para diferenciar as pessoas que se tornam pais, como exposto na própria justificação da PEC em comento.

A licença natalidade oportuniza ainda a divisão de papéis entre os homens e as mulheres na criação das crianças. Ora, se para a família for mais interessante que a mulher trabalhe fora e que o pai fique em casa cuidando do novo bebê, porque seria a lei o óbice a essa mudança, negando-lhes direitos trabalhistas previstos a outras pessoas na Constituição?

Já a licença paternidade, de acordo com a PEC 110/2011 seria fixada em 15 dias – com a atual redação, a Constituição delegada à lei a regulamentação desse instituto. Ademais, a licença paternidade passaria a ser concedida não apenas quando do nascimento, mas também nos de adoção ou concessão de guarda para fins de adoção. Essas mudanças focam também a tutela das novas relações de gênero, como ainda no princípio da paternidade responsável e no direito que também assiste aos homens de se aproximarem dos seus filhos.

>> http://www.senado.gov.br/atividade/materia/getPDF.asp?t=99167&tp=1

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Jornal Beijo da rua


Indico a recente edição do Jonal Beijo da rua, uma publicação da Davida. Pode ser acessado no endereço http://www.beijodarua.com.br/agosto2011.pdf. Está bem legal, vale a pena conferir. Tem até uma seção de receitas chamada Boa de comer com Spaghetti a la puttanesca. estava até pensando em pedir a receita do arroz das putas tristes para mandar para lá... rs

sábado, 9 de julho de 2011

8 femmes




Ontem passei o dia na frente do computador escrevendo a dissertação, quando as letras começaram a dançar sozinhas na tela achei que hora de parar. Entre desesperos e livros, liguei a TV. Estava passando o filme 8 mulheres do diretor François Ozon. Fiquei prostrada na frente na TV. Acho que as cores do filme me hipnotizaram. O filme se passa na França nos anos 50, o único homem da casa é assassinado e as 8 mulheres, que fazen parte da vida dele, são suspeitas e acusam umas as outras. O filme é um romance policial, meio comédia, meio drama e muito nonsense. Atrizes fantásticas. Bem Agatha Christie, a cada cena imaginava Hercule Poroit aparecer. Gostei do filme. Talvez no sense seja eu tenho um queda (quase inconfenssável) por romances policiais. Como sempre dormi no final e fiquei sem saber quem era o assassino...

terça-feira, 5 de julho de 2011

Lançado o Anuário das Mulheres Brasileiras 2011

A Secretaria de Políticas para as Mulheres e o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos lançaram no dia quatro de julho o Anuário das Mulheres Brasileiras 2011.

O Anuário é o resultado da compilação das principais estatísticas e informações disponíveis sobre a mulher brasileira em diversas conjunturas, tais como o mercado de trabalho, a saúde e os espaços de poder, tendo como objetivo subsidiar a aplicação e a orientação de políticas públicas, auxiliar as dirigentes sindicais brasileiras na ação sindical pela equidade de gênero e servir de fonte para instituições, organizações sociais, governos estaduais e municipais nas questões relacionadas às mulheres.

Esse trabalho também pode ser utilizado como valiosa ferramenta pelos estudiosos do direito, na medida em que ele fornece dados atuais sobre a condição feminina na sociedade brasileira e possibilita, por conseguinte, que as análises jurídicas incidam sobre problemáticas reais e contribuam com efetividade para a superação das desigualdades de gênero no Brasil.

Para mas informações, a íntegra do Anuário das Mulheres Brasileiras se encontra disponível na internet no seguinte endereço: http://www.sepm.gov.br/noticias/documentos-1/anuario_das_mulheres_2011.pdf

terça-feira, 31 de maio de 2011

Dia Internacional da Prostituta

SOMOS o que SOMOS




































Em 1975 na cidade de LYON 150 PROSTITUTAS francesas CUPARAM a IGREJA protestando contra a REPRESSÃO POLICIAL, MULTAS, PRISÕES e até ASSASSINATOS de colegas, que não eram investigados.
O movimento se ESPALHOU e IGREJAS de outras quatro cidades, inclusive PARIS,foram ocupadas.
Além disso, houve GREVE de SEXO comercial.
No DIA 11 de junho, a POLÍCIA invadiu as capelas e EXPULSOU as MULHERES aos SOCOS e PONTAPÉS.
Só que o MUNDO inteiro tinha acompanhado o PROTESTO. O resultado foi a CRIAÇÃO da ASSOCIAÇÃO DE PROSTITUTAS FRANCESAS. Com a REVOLTA, a LUTA pelo RESPEITO às MULHERES da VIDA ganhou FORÇA, multiplicando a ORGANIZAÇÃO em diversos países. É pra COMEMORAR.


texto- BEIJO DA RUA, maio de 2002 COLUNA -NO PONTO
AUTOR- FLÁVIO LENZ

Em todo o BRASIL existem 35 ASSOCIAÇÕES mobilizadas em defender e criar um diálogo permanente com a sociedade sobre os direitos da mulher. MULHERES SÃO IGUAIS EM QUALQUER PROFISSÃO. Segue o princípio do respeito ao ser humano na sua divesidade social de pensamento, costume, raça, crença, religião e PROFISSÃO.


SAUDAÇÕES a todos e a todas: DIA 02 de junho - DATA HISTÓRICA em todo o PLANETA... Acontece um dos mais importantes eventos populares de RESISTÊNCIA e AÇÃO CULTURAL:
O DIA INTERNACIONAL da PROSTITUTA.
Uma programação cultural, esportiva, holística, educacional e ambiental irá OCUPAR o ESPAÇO da rua da AREIA servindo como INSTRUMENTO de CONTRIBUIÇÃO, REFLEXÃO, ATITUDE e TRANSFORMAÇÃO em nossa SOCIEDADE. Uma realização da AGÊNCIA ENSAIO e da ASSOCIAÇÃO das PROSTITUTAS da PARAÍBA.

quando? dia 02 de junho (quinta-feira)
que horas? a partir das 19h07min
onde? rua da areia no centro histórico da cidade de joão pessoa
LIVRE - leve a sua família, seus amigos...
SEM JULGAMENTOS






Fonte: http://agenciaensaio.blogspot.com/

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Casal canadense decide criar bebê sem definir o sexo

Casal canadense decide criar bebê sem definir o sexo

Um casal canadense está causando controvérsia. David Stocker, de 39 anos, e Kathy Witterick, de 38, decidiram criam o bebê de 4 meses que tiveram sem definir o sexo. Embora não tenha qualquer ambiguidade na genitália, o bebê não é chamado nem de menino, nem de menina. O casal de Toronto diz que, com a decisão, está respeitando o direito de o bebê escolher o seu próprio sexo, livre das pressões e das normas sociais.

Além dos pais, as únicas pessoas que sabem o sexo biológico de Storm Witterick são os irmãos dele: Jazz, de 5 anos, e Kio, de 2.

"Se você quer realmente conhecer alguém, não pergunte o que há entre as suas pernas", disse David ao jornal "Star".

A todos que perguntam o sexo do bebê, os pais dizem que ele não será informado e se defendem: "A decisão é uma homenagem à liberdade em vez da limitação".


http://oglobo.globo.com/blogs/moreira/posts/2011/05/24/casal-canadense-decide-criar-bebe-sem-definir-sexo-382370.asp

terça-feira, 17 de maio de 2011

Prostitutas ameaçam atear fogo ao corpo em protesto na Coreia do Sul


Extra Online

Prostitutas sul-coreanas fizeram nesta terça-feira uma marcha em protesto contra batidas policiais em bordéis de Seul. Banharam-se de combustível e ameaçaram pôr fogo ao próprio corpo.

Prostitutas jogam líquido inflamável em si mesmas em aparente tentativa de se queimarem.

Prostitutas jogam líquido inflamável em si mesmas em aparente tentativa de se queimarem.

Prostitutas jogam líquido inflamável em si mesmas em aparente tentativa de se queimarem.

Fonte: http://extra.globo.com/noticias/mundo/prostitutas-ameacam-atear-fogo-ao-corpo-em-protesto-na-coreia-do-sul-1830063.html

terça-feira, 10 de maio de 2011

A Slutwalk e a culpabilização das vítimas de crimes contra a dignidade sexual

Em 24 de janeiro de 2011, um representante da polícia de Toronto afirmou em uma palestra ministrada na Osgoode Hall Law School que as mulheres deveriam evitar se vestir como “vagabundas” para que não fossem vítimas de abusos sexuais (1).

Em resposta, as estudantes da referida universidade organizaram o movimento Slutwalk (algo como marcha das vagabundas) para reafirmar que as vítimas de crimes sexuais não são as culpadas pelas agressões que sofreram.

Ademais,objetivam dar visibilidade para o fato de que posicionamentos como o do representante da polícia de Toronto perpetuam mitos, estereótipos e padrões em torno da sexualidade feminina e fazem com que as mulheres se sintam ainda menos estimualdas a procurar apoio institucional quando sexualmente violadas.

O movimento se espalhou pelo mundo principalmente a partir das redes sociais e marchas já aconteceram em diversos países, como Estados Unidos, Austrália, Nova Zelândia, Grã-Bretanha, Holanda, Suécia e Argentina (2).

O Brasil também precisa repensar a ainda corrente culpabilização das vítimas de crimes contra a dignidade sexual. As roupas ou o comportamento da vítima não devem ser entendidos como desculpas ou atenuantes para o comportamento do agressor, pois crimes dessa natureza não se relacionam com o afloramento do desejo sexual do agente, mas sim com a vontade perversa de subjugar e humilhar o outro.

1 http://www.excal.on.ca/news/dont-dress-like-a-slut-toronto-cop/

2 http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2011/05/110510_slutwalks_vagabundas_rw.shtml

Para mais informações, siga no twitter @SlutwalkTO ou visite http://www.slutwalktoronto.com/

sexta-feira, 29 de abril de 2011

sobre Évelyne Rey, atriz francesa.




Não podia deixar de compartilhar isso. Acabo de ler um artigo na Piauí, nº 55, escrito por Lanzman, cujo título é: Simone de Beauvoir e Sartre. Achei ótimo, mas não pelo que revela acerca da já conhecida relação entre Beauvoir, Lanzmann e Sartre, mas por aquilo que mostra a respeito de Évelyne Rey. (confesso, de todo modo, no que concerne à Beauvoir, que acho um exercício muito interessante o de esquandrinhar a vida de autoras cujas obras estamos acostumados a ler). Não me prolongarei, pois não tenho informações suficientes para saber o que pensar sobre o que li. Mas fiquei bastante curiosa para saber um pouco mais sobre essa personagem que, de forma trágica, acabou por sucumbir em meio a toda essa trama, de amores e canalhices.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Trabalho doméstico



Como hoje é dia da empregada doméstica resolvi postar algo sobre o assunto. Este tema me interessa bastante porque na minha pesquisa sobre prostituição percebi que várias mulheres costuma exercer concomitante ou alternadamente as duas atividades, em uma nítida intersecção entre gênero, sexualidade, classe e raça, mas hoje vou falar apenas sobre trabalho doméstico.

O trabalho doméstico não remunerado e o trabalho executado por empregadas domésticas são tidos como distintos, mas no fundo não o são. O trabalho executado é o mesmo, são atividades tipicamente exercidas por mulheres e não são valorizadas socialmente. O trabalho doméstico é invisível, é considerado sem valor, sendo o espaço doméstico um espaço de anonimato, um não lugar.

A desvalorização do trabalho doméstico (remunerado ou não) existe por ser uma atividade tipicamente feminina, como se fosse parte da natureza feminina, entretanto sabemos que essa habilidade de “cuidar” foi construída socialmente. Danda Prado, em seu livro Ser esposa a mais antiga profissão afirma que

A aprendizagem das responsabilidades domésticas começa desde o nascimento da mulher. Essa aprendizagem continua através de toda sua vida. Não pára nunca, nem com o casamento. Em cada parto, o recém-chegado traz consigo novas solicitações ligadas a necessidades diferentes e cada marido chega ao casamento trazendo também solicitações de sua profissão, do seu status social e as responsabilidades que representa. Existe ainda uma hierarquia variável nas tarefas de uma esposa, segundo os costumes de cada grupo social e o momento histórico vivido. (PRADO, 1979, p.121-122)

Hoje as mulheres estão também no espaço público, mas as relações de gênero no espaço privado pouco se modificaram, fazendo que para as mulheres estejam no espaço público necessitem do auxilio de outras mulheres no espaço privado, seja sogras, mães, irmãs e em especial de empregadas domésticas. Na América Latina, o trabalho doméstico é a principal ocupação das mulheres e sua discriminação é conseqüência da discriminação de gênero.

[...] o trabalho doméstico é uma atividade que, ao contrário, de outras, tem legitimidade social, dado que não implica a transgressão de nenhuma norma cultural. Cuidar é coisa de mulheres e servir é assunto de mulher pobre. Por conseguinte, o cuidado e o serviço constituem o espaço de trabalho habitual para a população feminina da Região da América Latina e do Caribe. A discriminação contra as empregadas domésticas é causa e resultado da discriminação contra as mulheres. (CEPAL, p. 71)

No Brasil esta discriminação é legitimada pelo direito. A Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) criada com o intuito de proteger as trabalhadoras e trabalhadores não regulamentava a situação das (os) empregadas (os) domésticas (os) tendo em vista o caráter não econômico e familiar deste serviço. A Constituição Federal de 1988 estabelece um tratamento diferenciado as (os) empregadas (os) domésticas (os) não lhes estendendo todos os direitos trabalhistas. Isto não surpreende, pois quando o direito protege os interesses das mulheres, o faz através do ponto de vista masculino e sua aplicação por meio de instituições e indivíduos imbuídos por uma ideologia androcêntrica que acabam por reforçar os estereótipos femininos.

Já afirmamos que o gênero é construído socialmente. O direito também participa da construção de identidades de gênero, na medida em que ele nega, assegura, outorga e define papéis, agindo na maioria das vezes, como um naturalizador das relações sociais. Neste sentido, o direito é um importante discurso social que reforça a idéia enraizada em nossa cultura da divisão sexual (masculino/feminino). Como lembra Alicia Ruiz (2000, p. 14),

El derecho interfiere em nuestras vidas cuando promete, otorga, reconoce o niega. Cuando crea expectativas y cuando provoca frustaciones. Las calidades de mujer y hombre, de padre de família, cóyuge, de hijo, de niño y adulto, de capaz o incapaz, de delincuente y de víctima, de culpable y de inocente, están siempre jurídicamente estatuídas,. Y el discurso jurídico es complejo, opaco, paradójico, enunciado por actores diversos, cada uno de los cuales agrega, modifica, eleimina sentidos. Las subjetividades e identidades sociales e individuales son, entonces, y al menos parcialmente, instituídas por esto discurso conformado por muchas vocês, que no dejan de hacerse oir y que pugman por ganar otros lugares o por preservar los que tienen alcanzados.

Na categoria empregada (o) doméstica (o) percebemos nitidamente a intersecção gênero, classe e raça. Estas variáveis estruturais de desigualdade acentuam a exclusão social desta categoria. Não podemos desconsiderar herança escravocrata brasileira. Mulheres negras – seqüestradas da África – além das atividades nas lavouras também eram utilizadas nos serviços domésticos das casas grandes. Essa herança é nítida na divisão sexual - e também racial - do trabalho no Brasil dos dias de hoje.

(...) o patriarcado, que subjuga as mulheres ao domínio dos homens e que somado ao escravismo configuram uma relação especifica, não digna de trabalho – o trabalho doméstico. (Dultra e Mori, 2008, p. 12)

Mulheres negras possuem demandas específicas que não conseguem ser tratada pelo manto das questões de gênero se este não levar em consideração as especificidades dessas mulheres. O fator racial produziu gêneros subalternizados. A consciência de uma identidade de gênero não acarretou uma solidariedade racial “intragênero”. As mulheres negras enfrentaram desigualdades e discriminação de mulheres brancas. Lélia Gonzalez diz que

de um lado, o viés eurocentrista do feminismo brasileiro, ao omitir a centralidade da questão de raça nas hierarquias de gênero presentes na sociedade, e ao universalizar os valores de uma cultura particular (a ocidental) para o conjunto das mulheres, sem as mediações que os processos de dominação, violência e exploração que estão na base da interação entre brancos e não-brancos, constitui-se em mais um eixo articulador do mito da democracia racial e do ideal de branqueamento. Por outro lado, também revela um distanciamento da realidade vivida pela mulher negra ao negar toda uma história feita de resistências e de lutas, em que essa mulher tem sido protagonista graças à dinâmica de uma memória cultural ancestral – que nada tem a ver com o eurocentrismo desse tipo de feminismo. (GONZALES apud CARNEIRO, 2003, p. 4)

Por outro lado, as mulheres também tiveram que exigir que as questões de gênero se instituíssem como elemento estruturante das desigualdades raciais. (CARNEIRO, 2003)

Em suma o trabalho doméstico é invisível, desvalorizado e pouco regulamentado. Este trabalho é exercido majoritariamente por mulheres negras. De acordo com a Organização Internacional do Trabalho no Brasil,

Em 2008, as trabalhadoras domésticas representavam 15,8% do total da ocupação feminina no Brasil correspondendo, em termos numéricos, a 6,2 milhões de mulheres, em sua maioria negras. Entre as mulheres negras ocupadas 20,1% estão no trabalho doméstico. Apesar de empregar um número significativo de mulheres, o trabalho doméstico é caracterizado pela precariedade: no mesmo ano, somente 26,8% do total de trabalhadores/as domésticos/as tinham carteira de trabalho assinada, e entre as trabalhadoras domésticas negras, este percentual é ainda menor: 24%. (OIT, 2010, p. 3)

Além do gênero e da raça, o fator escolaridade é determinante na reprodução do padrão do cuidado. Segundo a CEPAL de 2005, 56% das mulheres que trabalham no serviço doméstico remunerado não concluíram a educação primaria e 50% das mulheres que das trabalhadoras domésticas não remuneradas possuem até 06 anos de estudo. Tenta-se se explicar essa relação entre baixa escolaridade e trabalho domestico pela desnecessidade qualificação para essa atividade, mas as mulheres são qualificadas para o serviço de cuidado desde a infância pelo processo de socialização de gênero. A situação é gritante nas zonas rurais, pois as trabalhadoras domésticas remuneradas ou não “apresentam taxas de analfabetismo mais altas que o resto da população feminina”. (CEPAL, 2010, p. 77)

CARNEIRO, Sueli. Mulheres em movimento. Estudos Avançados, São Paulo, v. 17, n. 49, p. 117-133, set./dez. 2003. Disponível em: . Acesso em: 01 jun. 2009.

CEPAL. “Que tipo de Estado? Que tipo de igualdade?”: Trabalho não remunerado da mulher impede sua plena igualdade. Disponível em: http://www.sepm.gov.br/noticias/ultimas_noticias/trabalho-nao-remunerado-da-mulher-impede-sua-plena-igualda....pdf. Acesso: 15 dez 2010.

CEPAL. A contribuição das mulheres para a igualdade na América Latina e no Caribe: X Conferência Regional sobre a Mulher da América Latina e do Caribe. Quito, 2007.

DUTRA, Eneida Vinhaes; MORI, Natalia (Org.). Trabalhadoras domésticas em luta: direitos, garantias e reconhecimento. Brasília: CFEMEA, 2008.

OIT. A abordagem da OIT sobre a promoção da igualdade de oportunidades e tratamento no mundo do trabalho. Disponível: http://www.oit.org.br/topic/gender/doc/08_marco_2010_texto_139.pdf. Acesso: 01 dez 2010.

PRADO, Danda. Ser esposa: a mais antiga profissão. São Paulo: Brasiliense, 1979.

RUIZ, Alicia (comp.). Identidade feminina y discurso jurídico. Buenos Aires: Biblos, 2000.

domingo, 17 de abril de 2011

Imagens - curso O sexo do direito: Uma introdução às críticas feministas das teorias e práticas do direito




França irá multar mulheres que usam burca

Entrou em vigor na França lei que proíbe o uso em locais públicos da burca ou do niqab, prevendo multa de 150 euros para aquelas mulheres que infringirem a norma.

As declaradas intenções dos legisladores variam desde a segurança da cultura e identidade local, ameaçadas pelo crescimento de imigrantes e pelas altas taxas de natalidade verificadas entre os mulçumanos residentes no país, até a proteção dos direitos das mulheres, oprimidas por uma religião que institui a obrigatoriedade dessas vestes.

Não obstante, é preciso ponderar se a lei, que prentende proteger, não está na verdade afrontando liberdades individuais caras aos Estados de Direito, dentre elas a própria liberdade religiosa, e descaracterizando o que mais os diferenciava de regimes totalitários.

As preocupações nascentes de um multiculturalismo que aparentemente não conseguiu deslanchar na Europa são válidas, mas quais os melhores meios para se garantir a preservação dos direitos humanos e fundamentais? Leis que realizam escolhas pelas pessoas, inclusive no tocante à religião e ao modo de vestir, ou leis que dêem possibilidade de escolher pelas pessoas, como amparo estatal para que uma mulher muçulmana possa decidir livremente não utilizar a burca e denunciar aqueles que a obriguem a tanto?

Pelo que pode ser apurado até agora, a lei em comento não causou muitas manifestações contrárias1. Mas algumas delas, dada a criatividade, levam à reflexão, como o vídeo feito por duas estudantes universitárias francesas que sairam às ruas trajando um niqab remodelado, que deixa as pernas a mostra2.

1 http://www.dailymail.co.uk/news/article-1375781/Burka-ban-New-French-law-forbids-Islamic-women-wearing-face-veils-public-real-protest-London.html

2 Para ter acesso ao vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=2-SvxEYLFTM; manifesto esclarecendo o posicionamento das estudantes: http://niqabitch.tumblr.com/; perfil no twitter: @NiqaBitch

domingo, 13 de março de 2011

O mito Pagu





Patrícia Galvão, mulher, mãe, feminista, separada, poetisa, romancista, jornalista, cronista, protagonista, comunista, torturada, polêmica, irreverente e um mito. Não me acostumo com o nome Patrícia Galvão, não consigo chamá-la assim. Pagu, parece até que somos intimas. Audaciosa eu! Na verdade, na verdade, “Pagu foi um anjo anárquico que veio ao mundo para nos inquietar”, disse Plínio Marcos, e isso que ela faz comigo.

Tenho uma amiga que não gostou certa vez de ser comparada a Pagu, pois a achava feia. Acho ambas lindíssimas com seus traços marcantes e seu batom vermelho.

Durante um tempo não se falou sobre ela. Na década de 80, Augusto de Campos publica Pagu: vida e obra (1982, Brasiliense), uma antologia belíssima, com escritos, desenhos, fotos, notícias, testemunhos de e sobre Pagu. Livro que revisito periodicamente, como neste fim de semana. São os meus pequenos encontros com Pagu. Por isso essa postagem.

Este livro trouxe Pagu de volta aos holofotes. Pagu virou um ícone para o feminismo, uma figura emblemática, construída, revisitado e recriada quase num movimento antropofágico neste mito.

Pagu foi uma menina nada comportada, não aceitou padrões, nem convenções sobre feminilidade, sexualidade, maternidade e sobre a participação da mulher na esfera pública. Não precisar o porquê, mas mulheres transgressoras me fascinam. Talvez daí meu interesse pela prostituição. Termino compartilhando com vocês um desenho de Pagu.